Um som que não ficaria nada mal no Olimpo
A LAB 12 é um fabricante de última geração fundado em 2012 por Stratos Vichos, um engenheiro electrónico com experiência em design de áudio há mais de 20 anos. Após anos de ensaios e experiências, explorações e I&D, a LAB 12 avançou a partir de trabalho de uma única pessoa num pequeno laboratório na «rua 12» para uma empresa em rápido crescimento. Cada produto passa por processos de medição de última geração e de ajuste final, que são o resultado de audições e combinações prolongadas para garantir que o utilizador final tem um produto que corresponde exactamente àquilo que esteve por trás do seu projecto em laboratório.
Tive oportunidade de falar com Stratos Vichos durante o último show de Munique e trocar impressões sobre o Suara que tinha em teste mas também sobre diversos aspectos ligados à topologia electrónica dos seus produtos e aos componentes utilizados. E não demorou nada que não estivéssemos os dois de acordo em torno de temas tais como a utilização ou não de transformadores do tipo toroidal na saída dos amplificadores a válvulas. Tal como eu, Stratos discorda de Menno van der Veen, um engenheiro holandês que advoga a utilização deste tipo de transformadores em amplificadores a válvulas com saída em push-pull. Isto porque o circuito magnético de um transformador toroidal é do tipo fechado e basta algo como 1 mA de corrente para criar saturação no núcleo e distorcer o sinal de saída. E uma corrente deste nível pode facilmente aparecer porque as duas metades do enrolamento primário do transformador são percorridas por correntes em oposição de fase pelo que, se os circuitos magnéticos forem «perfeitamente» simétricos os campos magnéticos criados por cada um deles cancelam-se. Mas é quase impossível conseguir enrolamentos perfeitamente simétricos, mesmo construindo um transformador totalmente à mão, como eu já fiz várias vezes. Portanto a saturação acontece facilmente, especialmente nas frequências graves, quando os campos magnéticos são mais intensos. Stratos não usa transformadores toroidais na saída dos amplificadores, apenas na alimentação, onde estes factores deixam de ter importância e contam muito mais o menor peso e menor volume.
Foi igualmente interessante discutir com Stratos uma teoria que eu desenvolvi há alguns anos e que tenho apresentado a diversos engenheiros de desenvolvimento de produto e especialistas que fazem apresentações: uma das razões, claro que nunca a única mas mesmo assim bem importante, para um sistema tocar bem tem a ver com a distribuição dos valores de ganho ao longo da cadeia amplificadora. Partindo do fim para o princípio, um amplificador de potência terá um ganho da ordem dos 26 a 27 dB e um prévio algo como 10…11 dB, isto para um sinal de entrada de nível de linha – 0,707 V rms. Se se utilizar um prévio de phono este deve ter um ganho entre 60 a 68 dB para uma cabeça do tipo MC e 25 a 35 dB para uma MM, dependendo sempre estes valores do nível de saída da cabeça, algo que está muito longe de ser normalizado. Pequenas variações em relação a estes valores não influenciam grandemente a performance final, mas desvios da ordem dos 6 a 7 dB fazem com que o equilíbrio dinâmico do sinal seja alterado e o som adquira uma característica como que um desligar entre os naipes de instrumentos numa orquestra sinfónica ou mesmo uma sensação de quase incómodo / stress em quem ouve. Stratos acabou por concordar comigo, talvez também por simpatia, mas a verdade é que não foram poucas as vezes em que eu vi esta minha teoria demonstrada na prática. E muito mais tempo ficaríamos a conversar se não fosse o facto de, mais uma vez, eu ter que visitar uma larguíssima quantidade de amigos de longa data de entre a fraternidade do áudio.
Mas passemos então ao LAB 12 Suara, um amplificador integrado a válvulas com 50 W por canal, começando pela…
Descrição técnica
O chassis do Suara é bastante sólido e a estrutura é mais ou menos clássica: válvulas na parte da frente e transformadores de alimentação e de saída na traseira, protegidos por uma caixa rectangular. No painel frontal apenas dois pequenos vuímetros que dão uma indicação aproximada da potência de saída em cada canal e um conjunto de três LEDs vermelhos dispostos em triângulo que sinalizam o correcto funcionamento do amplificador. A cor deste painel de alumínio anodizado pode ser preta ou prateada. O interruptor de alimentação está situado na parte de cima do chassis, juntamente com dois interruptores de alavanca que servem para comutar o modo de funcionamento dos andares de saída.
As válvulas de potência são as KT150, duas por canal, funcionando em paralelo e em single-ended, classe A, com opções de comutação para o modo tríodo (grelha de blindagem ligada à placa) e modo ultra-linear, aplicado a um tétrodo – aliás, as válvulas que começam por KT são todas do tipo tétrodo. A comutação entre estes dois modos de funcionamento tem lugar de modo independente por canal, através de dois comutadores de alavanca montados junto às válvulas de saída, e deve ser efectuada com a alimentação desligada para evitar ruídos de alguma intensidade nas colunas e mesmo que as válvulas sejam sujeitas a esforços excessivos.
Os dois choques magnéticos do filtro em Pi estão aparafusados à tampa inferior do chassis.
Como válvulas préamplificadora e driver / desfasadora, temos uma 6NP1 e uma 6NP2, designações da antiga União Soviética, por canal. A primeira é muito parecida com a 6922 e a segunda com a ECC83/12AX7, embora não sejam compatíveis pino a pino porque a 6NP2 tem os dois filamentos em paralelo, pelo que só aceita tensões de filamentos de 6,3 V. Já a ECC83 tem um ponto médio nos dois filamentos ligados em série, pelo que estes podem ser alimentados a 12,6 ou a 6,3 V. Tal como mencionado de início, são utilizados transformadores toroidais na alimentação, tendo a estrutura uma configuração duplo-mono quase perfeitamente simétrica, ou seja, são dois amplificadores idênticos, um por canal, montados num mesmo chassis. A filtragem é efectuada através de quatro condensadores de 200 µF a 450 V por canal, com utilização de uma malha em “Pi” com choque magnético ligado entre dois condensadores de filtragem, para reduzir o ripple da tensão alternada. Os componentes são de boa qualidade, com praticamente todas as resistências de 1% de tolerância e diversos componentes com a marcação LAB 12. Existem entradas por RCA e XLR, embora a topologia do circuito electrónico não seja balanceada. Os terminais de saída são excelentes na estrutura e no aperto que permitem e são em número de três por canal para se poder escolher o valor da impedância de saída entre 4 e 8 ohm.
Uma placa de terminais montada na traseira permite ajustar a corrente de polarização de modo independente, ou seja, válvula a válvula. O ajuste dessa corrente e repouso das válvulas é milimétrico – para se obter os 0,95 V indicados pelo fabricante, o que deverá corresponder a algo muito próximo dos 95 mA em termos de corrente de placa é preciso ter uma mão bem firme. No entanto, segundo me confirmou Stravos, o ajuste não é crítico e qualquer valor entre 0,85 e 1,1 V garante um funcionamento perfeito do andar de saída. A tensão de alimentação é de 425 V, o que implica uma dissipação constante de cerca de 40…47 W por válvula, valor mais que aceitável em função das características das KT150 de marca Tungsol. As diversas válvulas estão identificadas uma a uma para facilitar a sua colocação no suporte correcto quando se recebe o amplificador já que, por razões de segurança, elas não vêm montadas.