Dois «irmãos» que se dão muito bem, o que não acontece em todas as famílias.
O A6 Gen 2 como transporte digital
Esta é uma das funções em que o A6 mais se distingue da concorrência, com funcionalidades que até hoje só tinha experienciado na Auralic, como igualização e controle de volume, características impensáveis até há pouco neste segmento - diga-se que o Aries S1, que também testei, é mais transparente (funciona a 64 bits e tem saída USB galvanicamente isolada, o que é possível acrescentar aos A6, comprando um produto próprio para o efeito ou um DAC com essa função já incorporada), mas é um produto mais caro que qualquer um dos A6, e funciona apenas como transporte digital, portanto a maior qualidade de som é expectável. Com várias saídas digitais (USB, coaxial, óptica ou HDMI multicanal), e possibilidade de uso de DSP nessas mesmas saídas, o A6 é uma proposta imbatível nesta gama de preço como transporte digital - permitindo até usar a opção de servidor, acrescentando um disco SSD, o que por exemplo me seria muito útil quando faço audições nas lojas. Seria excelente que a saída USB fosse galvanicamente isolada, ficando aqui a dica para a Gen 3.
O A6 Gen 2 ME como streamer
Primeiro apresentado como um versão mais refinada do A6, este versão Master do A6 deve ter feito muito sucesso no mercado, porque o conceito se manteve nesta nova Gen 2 de produto - e era, até agora, a única versão dos Eversolo que ainda não tinha testado, estando curioso para saber se a mera melhoria de componentes, sem alteração de circuito, iria afectar o som. E foi uma excelente surpresa, com graves profundos, um som muito aberto e claro, dinâmicas muito bem marcadas e uma sensação precisa, larga e alta de palco, acompanhada de transientes e timbres irrepreensíveis - para mim este A6 ME entra claramente na definição de tomba-gigantes, concorrendo ombro a ombro com produtos bem mais caros e sendo passível de ser integrado em sistemas acima do que o seu preço sugeriria, não tremendo com nada do que lhe «pedi» para reproduzir - parece-me aliás que se teria de gastar uma quantia considerável num DAC externo para se notar um salto de qualidade relevante no som do A6 ME, e é a minha nova referência em streamers desta gama de preço.
O A6 Gen 2 ME como transporte digital
O A6 ME teve um comportamento muito similar (ou seja, excelente) ao do A6 neste campo - no entanto, existe alguma diferença de som quando se usa uma das saídas síncronas, seja a óptica seja a coaxial, porque neste caso os relógios do Eversolo estão a funcionar, e o A6 ME usa melhores relógios que o A6. Mas (e sei que já fiz esta pedagogia mais vezes mas os mitos na audiofilia tendem a ser demasiado persistentes) é altamente aconselhável que, sempre que possível, se use a saída assíncrona (USB). Os preconceitos com o USB não têm nenhum sentido aos dias de hoje, com a esmagadora maioria dos DACs a terem excelentes implementações deste protocolo e a permitir que o relógio usado seja o do DAC de chegada em vez de se usar o do transporte, porque quanto mais perto o relógio estiver da conversão para analógico, melhor - sendo certo que o DAC irá converter esse mesmo sinal para um sinal síncrono i2s a um certo ponto, é melhor que isso seja feito o mais perto da conversão para analógico possível e não externamente. Se, por acaso, sentir que algum do ruído USB está a afectar o sinal (o que é raríssimo nos dias de hoje, mesmo em DACs sem isolamento galvânico), há vários produtos de qualidade e acessíveis que se colocam entre o transporte (o A6 ME, neste caso) e o DAC, e que garantem total isolamento galvânico, ou seja, zero ruído. Concluindo, se usar as saídas óptica ou coaxial para um DAC, o A6 ME apresenta ligeiras vantagens sónicas em relação ao A6.
Os A6 Gen 2 como servidores e a aplicação Eversolo Control
Fiz ainda um breve teste aos A6 como servidores e tiveram um comportamento irrepreensível como estas funções, funcionando sem falhas e sendo até possível usar um controle remoto, opção extra, para controlar a música interna (e se isto parece banal, já testei muitos streamers que não têm uma função tão simples como repeat once). Também a aplicação é em geral excelente e muito simples de usar, permitindo executar tarefas raras de encontrar, como a criação de listas de reprodução ou playlists com músicas de diversas origens - podendo apenas ter algumas melhorias gráficas, especialmente no meu now playing: aí a minha referência continua a ser a Lightning DS da Auralic, embora a Eversolo Control permita, por exemplo, editar fotos de artistas, o que também é bastante raro. Mas, do ponto de vista de uso prático, a aplicação é muito boa - embora a maior parte do meu teste tenha sido feito usando a minha referência, a aplicação Bublle UPnP, com um servidor MinimServer, por UPnP.
Foram ainda feitos alguns teste simples usando o Qobuz através da Eversolo Control e tudo correu sem nenhum problema - sendo possível aceder aos menus “My Weekly Q”, “My playlists” ou “Favourites”, o que torna a experiência muito próxima do uso da aplicação nativa do Qobuz - assumo que os outros serviços de streaming funcionam igualmente bem.
Deixo ainda uma pequena nota final para os que queiram adicionar uma biblioteca aos A6 e não queiram usar o disco interno ou aplicações externas - se tiver os ficheiros num NAS ou num PC, a Eversolo Control permite construir uma biblioteca através de vários protocolos (WebDav, UPnP, NFS ou SMB), dos quais aconselho o NFS - por alguma razão a aplicação tem dificuldade em encontrar o meu NAS por qualquer um dos outros protocolos, mas por NFS o processo foi muito simples e indolor (o que poderá ser um problema específico da minha rede e/ou NAS, ou nabice minha).
Comparação com o A8 e o A10
Dei também por mim a fazer uma reflexão curiosa entre os A6 e os seus irmãos mais velhos, o A8 e o A10, que também tive a oportunidade de testar. E, apesar das diferenças de preço, e ignorando que o A8 e o A10 têm um (excelente, diga-se) circuito analógico de préamplificação, os A6, mais do que melhor ou pior, soam acima de tudo bastante diferentes do A8 e do A10 - mais abertos e menos polidos, com mais agudos e transientes mais presentes, o que resulta num som menos romântico e “bonito”, talvez até mais agressivo ou intenso quando a música assim o requer. Tudo isto será bom ou mau, conforme o gosto de cada um - eu gosto mais de um som mais realista e cru do que de um som mais idealizado e polido, mas sei que muitos preferem o contrário. Gostava também de ter ouvido estes dois Eversolo com um amplificador completamente balanceado, acreditando que isso iria melhorar ainda mais o som - se tiver essa possibilidade, aconselha-se o uso de cabos XLR (mas atenção que muitas marcas alegam que os seus amplificadores são balanceados, mas muitas vezes são-no apenas na entrada ou no circuito de préamplificação).
Conclusão
Dito tudo isto, o que poderia ser melhorado nestes Eversolo? Bom, nesta gama de preço, é muito…muito injusto apontar melhorias, mas seria interessante ver Chromecast Audio nestes produtos, e isolamento galvânico na saída USB, como já referi atrás. Gostaria também que o DSP fosse aplicado a 32 bit sem necessidade de conversão prévia e que alguns aspectos gráficos da aplicação fossem melhorados, como o meu now playing (tanto em portrait como em landscape) ou o tamanho das fotografias dos artistas. Mas tudo isto são meros pormenores, em dois produtos que são já absolutas referência na sua classe e que viram a sua qualidade significativamente melhorada neste Gen 2 - sendo ambos vivamente aconselhados.
Com uma miríade de funções, excelente software, uma boa aplicação, actualizações constantes e uma qualidade de som que iguala ou supera as referências da classe em que se inserem, estes A6 Gen 2 irão provavelmente ter um impacto ainda maior que os seus predecessores. Que não haja dúvidas, a Eversolo chegou, viu e venceu e creio que ficará muitos anos pela alta-fidelidade, e a puxar para cima a inovação tecnológica desta indústria. Para todos os que procuram um streamer ou um transporte digital na gama de preços do A6 e do A6 ME, ambos são, indubitavelmente, membros obrigatórios de uma lista muito curtinha, e, como demonstração final da veracidade destas palavras, é muito provável que um deles acabe por ficar aqui por casa.
PS - Como exemplo da constante actualização dos produtos que a Eversolo faz e que mencionei acima, acaba de ser lançada uma nova aplicação de controlo (ainda em fase Beta), com muitas novidades (principalmente em modo portrait), tais como modo light (que prefiro claramente ao modo dark), atalhos para os serviços que usamos mais ou a possibilidade de controlo de vários produtos Eversolo ao mesmo tempo.
Streamers Eversolo A6 e A6 Master Edition
Preços:
A6 Gen 2 899 €
A6 Master Edition Gen 2 1369 €
Contactos*
*O Eversolo A6 foi-nos cedido para teste pela Imacustica, enquanto o A6 Master Edition já veio da Delaudio, num reflexo da estratégia de distribuição que a Eversolo está a seguir em toda a Europa.