Auralic Aries S1

Miguel Marques

15 março 2025

Um (pequeno) «enorme» transporte digital com tudo o que pode desejar.

Significa então isto que o Auralic funciona perfeitamente com o seu Lightning Server e com a sua aplicação Lightning DS, como é evidente, e funciona também perfeitamente com o MinimServer e as aplicações de controlo Bubble UPNP (Android) e Linn (Windows e Android), para quem gosta de usar plataformas que não sejam Apple ou para quem queira fotografias de artistas - mas mesmo aqui não é possível usar o Qobuz com nenhum deles, apenas o servidor com ficheiros locais… Fica a dica para quem gosta de servidores.

5) Creio que se exige também uma pequena explicação sobre as saídas digitais, que se regulam no menu Hardware Setup - onde, em output channel, vemos as (bastante confusas) opções «digital outputs» e «model name». Ora, a primeira opção significa que as saídas óptica, coaxial e AES/EBU estão activadas e a segunda refere-se à saída USB e, quando ligamos um DAC ao Aries S1, ele mostra o seu nome (quando há compatibilidade). A maioria dos DACs são compatíveis por USB, mas nem todos - o TEAC UD-507, por exemplo, não é, mas o iFi Pro DSD é (convém investigar ou experimentar primeiro, embora seja sempre possível usar uma das outras saídas, pois a esmagadora maioria dos DACs não tem só entrada USB). Sei que existem ainda alguns preconceitos com sinal áudio, alta-fidelidade e USB mas, aos dias de hoje, isso são mesmo apenas preconceitos - a maior parte dos DACs já inclui excelentes protocolos XMOs e transportes digitais como o Aries S1 isolam completamente a saída USB, não havendo qualquer espaço para ruído ou jitter. O USB tem também a vantagem de se usar o circuito de relógio do DAC e não do streamer, não havendo necessidade de ter um sincronismo perfeito entre ambos, e de se poderem usar frequências de amostragem mais altas, tanto nativas dos ficheiros como por upsampling.

6) Outra pequena nota sobre o uso de uma pen USB, que sei que muitos audiófilos também gostam pela sua simplicidade - não existe nenhuma entrada para estas pens na aplicação e durante algum tempo não percebi onde estava… e acontece que a pen é adicionada ao Lightning Server e é aí que encontramos os ficheiros, no library setup.

7) Tendo em conta o quão longo já vai este teste, não creio que se justifique uma análise detalhada do som do Aries S1, disco a disco. Até porque, sendo um transporte digital sem DAC, não poderia nunca ter um impacto massivo no som de um sistema, tem como principal função «receber» os bits que lhe enviamos, aplicar DSP se tal quisermos, e entregar ao DAC esses mesmos bits em formato bit perfect, e livro de ruído e jitter, e isso o Auralic faz, sem qualquer dúvida (sendo que, nas saídas AES/EBU, coaxial e óptica, os relógios do Aries S1 estão em funcionamento, podendo aí ter um impacto maior na qualidade do som do sistema, dependendo do DAC que se usa e da qualidade dos seus relógios). A saída USB soou fantástica com o Pro iDSD, que conta também ele com isolamento galvânico, e a saída coaxial soou também muito bem com um TEAC UD-507, aqui tendo um maior impacto sónico porque a saída coaxial implica que os relógios usados sejam os do Aries S1 e notou-se um acréscimo de qualidade face aos do TEAC. Graves com presença e definição, médios encorpados e agudos sem arredondamentos ou excesso de brilho, o Aries S1 toca mesmo muito bem e certamente poderá ser integrado em sistemas muito acima da sua gama - e o meu teste passou por muitos discos (em alta resolução e em formato Redbook) e muitos estilos de músico, com maior incidência no jazz. Fiquei, aliás, surpreendido pelo impacto sonoro (muito positivo) que o Aries S1 teve no meu sistema, mesmo por USB, e parece-me que terei de reconsiderar a minha noção de que os transportes digitais têm pouco impacto no som de um sistema… É «ouver» para crer.

E a quem se dedica um produto destes? A forma mais preguiçosa, digamos, de ver este produto é que se trata de um produto de nicho - dedicado aqueles que, como eu, gostam de DSP mas não gostam de Roon e preferem outros produtos como o MinimServer. Até aqui, estas pessoas não tinham como aplicar DSP de qualidade aos seus ficheiros ou ao seu streaming sem ser usando o Roon, mas isso acabou com Aries S1, e esse pequeno nicho de pessoas tem aqui um produto perfeito para as suas necessidades - no meu caso MinimServer, muito ocasionalmente Qobuz, e bom DSP na forma de igualização e atenuação digital é tudo o que preciso antes de um DAC.

Mas se o DSP e a integração com o MinimServer estão lá, é também possível ignorar isso tudo e simplesmente ver o Aries S1 como o excelente transporte digital que é. Sei que muitos audiófilos não gostam de coisas complicadas, e o Aries S1 consegue ser extraordinariamente simples - munido de uma máquina destas e de um iPad, faz-se login a um serviço de streaming ou cria-se um Lightning Server apontando para os ficheiros num NAS ou num PC, e é só ouvir música, sem mais complicações. E, fica a dica, para todos os que, apesar de terem preconceitos com DSP, usem DACs externos sem controlo de volume digital (como é o caso do iFi Pro iDSD): experimentem colocar o volume do Aries S1 em 94, que implica uma redução de volume digital de 3 dB, e vejam se o vosso DAC soa melhor, especialmente com música pop/rock pós ano 2000.

O Auralic Aries S1 é o melhor transporte digital que já testei - pequeno, leve, com um bonito (embora pequeno) ecrã de now playing (ainda não tinha mencionado este pormenor), uma aplicação excelente, alimentação linear com transformador, DSP a 64 bit e um preço acessível, não creio que se possa pedir mais (e ficará ainda mais completo assim que se adicionar room correction). Tem as suas peculiaridades no uso de servidores, mas isso é um pequeno pormenor facílimo de resolver - e acabou por ter um impacto sonoro no meu sistema muito acima do que previa inicialmente, o que me surpreendeu bastante, forçando-me a rever as minhas crenças nesta matéria. Aliás, se construísse aos dias de hoje um sistema do zero, o Aries S1 seria, sem sombra de dúvidas, o primeiro elemento da cadeia - na minha modesta opinião, é simplesmente impossível não gostar deste produto, que conta com a minha mais entusiástica recomendação. A todos os que busquem um streamer sem DAC (por exemplo, creio que muitas pessoas nos dias de hoje terão no seu sistema um amplificador integrado com DAC, mas sem streaming), aconselha-se vivamente uma visita à Ultimate Audio (a quem, já agora, agradeço a oportunidade para o teste) para ouvir este Aries S1.

Interior da fonte de alimentação externa para o S1.

PS 1 - Gostaria de agradecer também a Xuanqian Wang, da Auralic, a enorme paciência (de chinês, mesmo), ao ter de responder por e-mail às muitas (e intricadas) perguntas que lhe fiz - deixando uma excelente impressão do serviço ao cliente da marca.

PS 2 - Aquando do retorno da unidade à Ultimate Audio, foi-me informado que o uso da fonte de alimentação externa da Auralic tem um impacto significativo no som do Aries S1, sendo aconselhável a todos os que buscar este produto que experimentem com essa mesma fonte e retiram as suas próprias conclusões.

Auralic Aries S1
Preço                                                           1939 €
Preço com fonte de alimentação externa   2909 €
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