Uma aposta ganha
Audições
O Michi X3 S2 foi testado em ligação ao streamer Aurender A20, tanto como fonte de digital completa com a conversão D/A a ser feita no Aurender, como a funcionar como streamer puro, em ligação à entrada USB do Michi e com o processamento de sinal a ser feito pelo módulo digital integrado do X3 S2. Foi ainda pontualmente utilizado o transporte de CD’s Primare DD15. A dar voz ao sistema estiveram as colunas Perlisten Audio S7t, bem como os auscultadores Mr. Speakers Aeon Flow Open. A cablagem incluiu os cabos Kimber Select KS-1121 na interligação analógica, Audioquest Carbon USB e Nordost Blue Heaven nas ligações digitais e, nas colunas, os habituais Kimber Select KS-3033.
Lista de obras escutadas durante as audições
• G. Mahler – Sinfonia nº 3, Coro e orquestra Sinf. Rádio Frankfurt, Eliahu Inbal, Qobuz
• Bruckner – Sinfonia nº 7, Orquestra Sinfónica de Chicago, Bernard Haitink, Tidal
• S. Rachmaninov, Concerto p/piano e orquestra nº 2, Vladimir Ashkenazy, Orq. Concertgebouw Amesterdão, Bernard Haitink, Qobuz
• G.F. Handel, Dixit Dominus, English Baroque Soloists, John Eliot Gardiner, Qobuz
• Alan Parsons Project, Eye in the Sky, Tidal
• Patricia Barber, Café Blue, Qobuz
• James Newton Howard & Friends, Slippin Away II, Tidal
• Mike Oldfield, Discovery, Qobuz
• Dire Straits, Love over Gold, Qobuz
• The Dave Brubeck Quartet, Time Out, Tidal
• Friedmann Aquamarin Orquester, Percussive Pyromania, TagMcLaren (CD)
• Dulce Pontes, Lágrimas, Movieplay Portuguesa (CD)
Apesar de ter sido ligado a umas colunas de um escalão muito acima do seu, o Michi X3 S2 não mostrou qualquer sinal de fraqueza ou mesmo hesitação em realizar uma sonoridade que pede meças a muito amplificador de preço bem superior.
De facto, confesso ter ficado surpreendido pela garra e uma dimensão sonora totalmente inesperadas que o Michi foi capaz de instigar as Perlisten a produzir. Não sendo umas colunas propriamente difíceis, as Perlisten S7t já mostraram por diversas vezes uma especial apetência por amplificações musculadas, capazes de impor controlo no processo de reprodução musical e o Michi provou, sem sombra de dúvida, que os 200/350 Watt a 8/4 Ohm especificados por canal não estão lá só para encher papel, mas traduzem-se, de facto, numa capacidade para edificar som com escala, em perfeito controlo do processo de reprodução musical e com uma sonoridade muito honesta e sempre agradável ao ouvido.
Começando por baixo, as linhas de graves presentes na 3ª sinfonia de Mahler, surgiram perfeitamente definidas, revelando extensão, corpo e fidelidade tímbrica. Mesmo a volumes de som realistas, como eu gosto de ouvir, o Michi não perdeu nunca o controlo da situação, o que resultou numa prestação limpa e isenta de empastelamentos. O sentido rítmico é também excelente, os músicos tocam a tempo e isso reflecte-se num verdadeiro prazer musical. Falando ainda do registo grave, não posso deixar de referir a audição da faixa 12 do disco teste da TagMclaren, Percussive Pyromania, na qual diversos instrumentos de percussão se sucedem a um ritmo acelerado. Esta faixa coloca uma grande exigência quer à amplificação quer às colunas, tendo o Michi demonstrado uma capacidade de controlo incrível, permitindo extrair das colunas tudo o que elas têm para dar.
Um aspecto a que dou sempre muita importância, principalmente com música sinfónica, prende-se com as dimensões do palco sonoro e a distribuição espacial dos diversos instrumentos. Também aqui o Michi mostrou ter uma palavra a dizer. O palco sonoro apresenta umas dimensões apreciáveis, principalmente em largura, com uma focagem razoável dos intervenientes nos planos mais recuados. Apenas a sensação de profundidade é um pouco coarctada por comparação com a minha amplificação residente, mas aqui há sempre que ter em atenção a diferença de preços em causa.
A gama média possui um equilíbrio tonal timbricamente neutro e apresenta uma liquidez notável, que ajuda a conferir às audições um carácter relaxante e convidativo a longas horas de audição. Muito boa também a reprodução de vozes, com uma excelente articulação e resolução ao nível do detalhe.
Os importantes contrastes dinâmicos e a rapidez de execução surgem com a intensidade correcta, permitindo uma natural fluidez da música, enquanto a transparência, ainda que não de nível referencial, é suficientemente clarividente para permitir seguir com facilidade diversas e múltiplas linhas musicais simultâneas.
O registo agudo apresenta-se muito limpo e de extensão adequada, permitindo uma correcta reprodução dos harmónicos superiores. Os instrumentos de corda como os violinos e violas soaram sempre muito correctos, suaves, envolventes, bem timbrados e sem falsas ênfases.
A audição do salmo Dixit Dominus, de Handel, numa gravação com os English Baroque Soloists e o Monteverdi Choir com John Eliot Gardiner na direcção, revelou-se dos momentos mais interessantes de convívio com o Michi. Para essa situação muito contribuiu a capacidade do amplificador em corporizar de uma forma coesa um conjunto orquestral e coral, permitindo seguir as linhas vocais de cada um dos naipes do coro, para o que contribuiu a direcção precisa de Gardiner mas também o virtuosismo único do Monteverdi Choir. O que é certo é que o Michi proporcionou-me momentos de verdadeiro gozo musical, com uma orquestra muito bem definida, na qual puderam ser ouvidos com igual clareza todos os naipes e uma correcta colocação espacial do coro e dos solistas no palco sonoro, bem como a homogeneidade do conjunto, que me fizeram esquecer o espírito analítico da audição para me dedicar simplesmente à fruição pura e simples da obra musical.
Conclusão
A Rotel propõe com o Michi X3 S2 um equipamento que cumpre na íntegra a premissa que presidiu à recuperação do nome Michi, o lançamento de uma gama de produtos acima da gama regular da Rotel, oferecendo uma performance capaz de desafiar o segmento de High-End, a preço naturalmente mais elevado, mas perfeitamente justificável quer pela qualidade de construção quer pelo desempenho sonoro.
Este X3 S2, enquanto modelo de entrada na gama Michi cumpre esse desiderato, um amplificador integrado equipado com um módulo de conversão digital/analógico de alta qualidade e um circuito analógico que lhe permite competir com equipamentos de preço bem superior ao seu, num chassis de grande apelo estético, fácil utilização e desempenho sonoro de nível superior, provam que a aposta da Rotel em recuperar o nome Michi para uma gama de produtos a competir no segmento High-End foi uma aposta ganha.
Amplificador integrado Rotel Michi X3 S2
Preço 6.999€
Representante Sarte Audio