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Electrocompaniet ECI 80D

Electrocompaniet ECI 80D

Miguel Marques

30 abril 2025

Neutro, transparente e cheio de resolução


Passando agora para a saída de auscultadores, temos uma escolha no mínimo curiosa da Electrocompaniet: as saídas para estes produtos estão na parte de trás do amplificador, para não estragar o design da parte da frente (segundo li na Internet). Como prefiro a practicabilidade à beleza (pelo menos neste mundo da alta-fidelidade), teria preferido que estivessem na parte da frente, como é costume (e seria até mais imediato um potencial cliente perceber que esta opção existe, eu só me apercebi da saída de auscultadores quando liguei cabos na parte de trás e tive essa «surpresa»). Como nota final, fica a curiosidade de que é possível usar as duas saídas de auscultadores em simultâneo, desde que a impedância combinada dos dois auscultadores, em paralelo, não ultrapasse os16 ohm - podendo assim duas pessoas (um casal com filhos pequenos, por exemplo) desfrutar de música ao mesmo tempo e sem incomodar terceiros. Já agora, o uso de auscultadores não é automático, é necessário primeiro premir o botão indicado para o efeito no controle remoto e aí as colunas «calam-se» e só a saída de auscultadores está disponível. Quanto ao som deste amplificador de auscultadores, fiz algumas audições breves e fazendo a necessário ressalva de que não é área que de todo domine, pareceu-me muito competente, com volume mais do que suficiente, bastante corpo e peso nos graves, e uma boa sensação de palco - em suma, uma excelente saída de auscultadores para um integrado neste preço; tal como referirei sobre o DAC mais à frente, parece-me que terá de ser feito um bom investimento num amplificador separado para se notarem ganhos sonoros audíveis e notórios.

Foto 5 Electrocompaniet ECI80D

Não tem sido fácil ultimamente escrever sobre amplificadores - tem sido um mercado onde nos últimos anos a total transparência, resolução e neutralidade têm feito caminho, sempre acompanhadas de medições exemplares (não tendo encontrado nenhumas deste ECI 80D, assumo que assim o seja, não só por isso ser costume na marca norueguesa mas porque, subjectivamente, assim me soou este integrado). Se algumas marcas ainda apostam, propositadamente, em desvios de frequência (como uma curva mais em “V” ou “U”, com acentuação de graves e agudos) ou na adição propositada de «cor» (geralmente sob a forma de distorção eufónica de segunda ordem, como Nelson Pass, por exemplo, faz propositadamente), quando não o fazem e se focam em produtos que apenas «amplificam» e nada mais, as diferenças entre válvulas e transístores, classe A/B ou classe D, ficam muito mais dissipadas e difíceis de discernir. Leia-se aliás o que John Atkinson, provavelmente o meu crítico de áudio preferido e durante muitos editor e ainda hoje responsável pelas medições na prestigiada revista Stereophile, escreveu há pouco tempo sobre o Musical Fidelity NuVista 800.2: ”This was a difficult review to write given that, like other 21st century solid state amplifiers that offer superbly low distortion and noise, the Musical Fidelity Nu-Vista 800.2 didn’t have a readily discernible sonic character”.

https://www.stereophile.com/content/musical-fidelity-nu-vista-8002-integrated-amplifier-page-2

Pois é, não é nada fácil escrever sobre a ausência de distorção e ruído, e assim me soou este ECI 80D - neutro, transparente, cheio de resolução mas sem que isso se traduza em algo frio, analítico ou difícil de ouvir. Poderíamos talvez dizer que o som deste integrado está no warm side of neutral, o que significa uma muito ligeira atenuação dos transientes (sem perda de velocidade ou dinâmicas), e um som final muito levemente polido ou romântico. Ficou-me particularmente na memória a capacidade excepcional de definir os graves, onde tantos amplificadores falham com as KEF LS50 e isto apesar de não ser particularmente potente, o que prova que, se há vida além do défice, também o há além das especificações, e nem todos os 80 watts são iguais. A secção digital, onde tantos integrados nesta gama de preço cumprem sem passar da mera competência, e onde a minha preferência pessoal passa mais pela ESS do que pela Burr-Brown, soou-me particularmente bem desenhada e talvez até uns furos acima do meu Cambridge Audio MXN10, sendo certamente necessário gastar uma quantia significativa num DAC ou streamer externo para se notar um salto grande face ao DAC do ECI 80D (com o Eversolo A6 Gen2, por exemplo, já foi uma disputa mais taco a taco).

Foto 6 Electrocompaniet ECI80D

Feitos os elogios, onde poderia este ECI 80D ser melhorado? Bom, nesta gama de preço, talvez fosse desejável uma entrada USB e entradas analógicas XLR - mas é provável que produzir na Noruega obrigue a certos compromissos. Mais relevante, há um pormenor que gostaria que a Electrocompaniet revisse neste amplificador e é uma opinião que já expressei em relação a outros produtos similares (como no caso do teste que fiz ao CXA81 V2 da Cambridge Audio), porque acredito que o mercado de amplificadores caminha para ter três tipos de produtos:
a) amplificador completamente analógico, seja em separados ou em integrado;
b) amplificador «tudo em um», com streaming incluído, e que em inglês muitas vezes se apelida de just add speakers ;
c)) pré-amplificador com DAC e streaming mais amplificador de potência (como no caso dos NAD M66 e M23 ou dos Eversolo A10 e F10).
Não creio, portanto, que vá continuar a haver muito espaço para integrados com DAC mas sem streaming, e no caso do Electrocompaniet, a marca tem já software próprio e um bom pedigree no mercado dos streamers, dos quais tenho ouvido falar muito bem, sendo portanto relativamente simples, creio, adicionar streaming a este ECI80D, tornando-o num verdadeiro «tudo em um», mesmo que isso adicionasse umas centenas de euros ao preço (ou até criando a hipótese de adicionar streaming como um módulo opcional).

Foto 7 Electrocompaniet ECI80D

Mas tudo isto é um pouco irrelevante no sentido de que o que importa está lá - resolução, transparência e neutralidade a um preço «acessível», num pacote simples e elegante e o prazer se comprar um produto made in Europe (lembra-se da última vez que comprou um produto de alta-fidelidade feito no velho continente e a um preço acessível?), o que é ainda mais relevante neste (muito pouco) admirável mundo novo das tarifas. É também um amplificador que, pelas características acima referidas, irá trazer ao de cima as características sonoras tanto dos altifalantes que o procedem como das fontes que o precedem - fica aliás aqui a nota que, e ao contrário do que tanto se escreve por aí que «os DACs soam todos iguais», num sistema em que a amplificação é tão neutra como no caso deste ECI 80D, o estágio de saída do DAC/streamer que anteceda o amplificador tem um peso decisivo no som final do sistema (ainda no meu teste recente do Eversolo A10 senti que o esse estágio de saída do DAC, na conversão de digital para analógico, contribuía muito mais para o som do produto e do sistema total que o circuito de préamplificação quando combinado com um amplificador Classe D neutro). E, não tendo testado a entrada de phono, posso garantir que é um amplificador que funciona muito bem com o digital, soando particularmente bem com gravações mais recentes, já todas elas feitas em digital e servidas ao consumidor na mesma alta resolução nativa em que foram gravadas, como é o caso de alguns dos discos referidos acima. Em resumo, o ECI 80D é um excelente amplificador (com uma muito competente secção digital) ao qual basta adicionar umas boas colunas e um bom transporte digital, para se sentir que se chegou ao século XXI da alta-fidelidade. Fiquei assim a conhecer mais uma marca, e, se o leitor também não conhece ou se conhece mal, aproveite uma ida à Esotérico para ficar a conhecer, dificilmente se irá arrepender.

PS 1 - Existe uma curiosa ligação entre a Electrocompaniet (noutra encarnação) e Michael Jackson - se quiser saber mais, é só ler no link em baixo.

https://trackingangle.com/features/how-a-small-norwegian-hi-fi-brand-ended-with-credits-on-michael-jackson-s-album-covers

PS 2 - Nos últimos dias de escrita deste artigo, tive por companhia o Eversolo A6 Gen2, que deu um salto considerável em relação ao meu venerado MXN10 - e o salto de qualidade no som do ECI 80D e das KEF LS50 deu um salto não despiciendo de qualidade. Será portanto boa ideia emparelhar este versátil amplificador com um parceiro digital de qualidade, para que toda a sua qualidade venha ao de cima.


Amplificador integrado Electrocompaniet ECI 80D

Preço 3299 €

Representante Smartaudio