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Riviera Audio APL10 e AFM50

Riviera Audio APL10 e AFM50

Jorge Gonçalves

28 agosto 2023

Diálogo musical do alto nível


Audições


Os dois equipamentos da Riviera entraram no meu sistema de áudio substituindo a electrónica da Constellation Audio. Os restantes elementos eram: como fonte digital o Roon Nucleus Plus com o Pro-Ject Pre Box RS2 Digital como descodificador D/A e renderer de MQA (descodificação completa) e, no domínio analógico, o gira-discos Basis com braço SME V Gold e cabeça Air Tight PC1 Supreme, sendo o prévio de gira-discos o Nagra CLASSIC Phono. As colunas eram as QUAD ESL63 Pro, e os cabos de interconexão e coluna eram predominantemente da gama Select, da Kimber.  Na alimentação de sector pontuava a régua Vibex Granada Platinum, à qual ligavam todos os equipamentos electrónicos em uso, com o APL-10 a ser alimentado através do cabo Tiglon TPL-2000A.
A música é um diálogo em que os diversos intérpretes, através dos instrumentos musicais que tocam, falam uns com os outros, emitem as suas opiniões, por vezes de forma acalorada, mas nunca perdem a ligação. No fundo, até uma interpretação a cappella acaba por ser um diálogo, neste caso do intérprete consigo próprio.

Riviera AFM50-2.LR

Num sistema de áudio passa-se algo muito semelhante: cada equipamento “fala” com bons modos com o que se lhe segue e com o que está antes e desse diálogo resulta a performance final, tal como numa orquestra. Se por acaso algo não funcionar bem nesse quase oaristo, então a música não nos soa bem, muitas vezes por razões que não conseguimos explicar: podem ser os ganhos relativos de cada componente de amplificação, as impedâncias de entrada ou saída e assim por diante, nunca esquecendo o estado de espírito do elemento final, o ouvinte. E uma das grandes mais-valias dos Riviera é a capacidade de falarem entre si de uma maneira suave sem dissensões, sempre prontos para transportarem a música até nós. E o caso vertente é seguramente um daqueles em que se pode dizer que os dois equipamentos foram feitos para trabalhar juntos.
Logo que se ligam, os equipamentos da Riviera manifestam um comportamento irrepreensível: não há o mínimo ruído de ligação, até as teclas de ligação são suaves e silenciosas, e passados poucos segundos ali estão eles, disponíveis para entrarem em acção, correspondendo de todas as maneiras possíveis às necessidades da música que por eles passa. E a música que debitam é bonita até mais não, embora sem ser melíflua, nada disso. O palco sonoro é imenso, sempre com boa definição, a gama média deleitosa, o grave redondo, bonito, o agudo extenso até lá acima. Acima de tudo, estes Riviera fazem a música parecer bonita e ao mesmo tempo divertida; são produtos que satisfazem os entusiastas de áudio experientes, quer ergonómica quer musicalmente. Mesmo os ouvintes casuais têm aqui algo de que podem desfrutar por si próprios e uns com os outros, porque quem ouve este conjunto tocar fica irremediavelmente preso à música que deles sai.
E as grandes recompensas ocorrem quando se entra pelo Tidal ou pelo Qobuz e se procuram aquelas músicas de que já gostámos muito de ouvir quer no nosso sistema quer em apresentações de áudio. Lembrei-me de Aurora, da desaparecida Björk, que já não ouvia há algum tempo, e ela levou-me por alguns caminhos sombrios e estranhos, emoções de baladas que tocam bem fundo, e passei então depois a um género bem diferente com as Danças Sinfónicas, de Rachmaninoff, que soaram bonitas, dançantes, cheias de ritmo e igualmente capazes de abanar as paredes quando daquela fulgurante entrada que vai crescendo naturalmente até despejar sobre nós toneladas de energia.

Riviera APL10-2

Este foi um bom teste do amplificador porque a tonalidade não mudou um milímetro ao longo de todo o percurso dinâmico desta faixa, um sinal de qualidade porque tocar bem a níveis reduzidos é algo que poucos amplificadores ou colunas conseguem, muito menos se têm que reproduzir graves credíveis quando não queremos incomodar o resto do agregado habitacional (e vizinhos mais próximos, pois claro) quando ouvimos música às 2 da manhã, ou capazes de nos fazer abanar o esqueleto quando nos sentimos autorizados e entrar por essa área. E uma música perfeitamente à altura de ilustrar essas capacidades é  Valencia, tocada pelo Attacca Quartet, uma faixa em que os instrumentos foram gravados com os microfones quase em cima deles e que pode soar demasiado agressiva nalgumas circunstâncias, quer em altura quer em timbre, mas que ouvi com um prazer imenso quer a horas normais quer já bem dentro da madrugada do dia seguinte, sem perder uma pitada, fosse dos pizzicatti no violino fosse dos acordes intensos do violoncelo. E quando passei a Can voi l’aube, uma faixa que me foi sugerida pelo Tidal, a voz de Anne Sofie von Otter, que me apresentada em tempos já bem idos pelo meu amigo José Júdice, soou verdadeiramente espantosa de presença e veracidade na sua interpretação quase a capella: intensa, de uma tonalidade perfeita, com uma dicção que quase dava para fazer leitura labial.
Quer quando reproduzindo o poder o poder do piano de András Schiff nas Sonatas para Piano de Beethoven, quer alardeando ou a fabulosa interacção dos músicos em Somethin’ Else de Cannonball Adderley, uma das minhas músicas favoritas no género jazz, quer ostentado toda a graça de Khatia Buniatishvili a tocar Vocalise, Opus 34, de Rachmaninoff, ou La Javanaise, de Serge Gainsbourg, parecia que todas estas faixas estavam a ser tocadas exclusivamente por mim e cada uma delas me desvendou mais alguns dos seus pequenos segredos quando reproduzida através do inebriante e emocionante conjunto da Riviera.

Conclusão

Por vezes encontro amplificadores extremamente precisos que quase me conseguem dizer qual a cor da gravata que Miles Davis usou quando executava uma determinada música, o que definitivamente é um exagero. Os Riviera têm detalhe mais que suficiente e, mais importante ainda, tocam maviosamente, tendo feito uma combinação sublime em termos de reprodução da imagem espacial e de perfeição de timbre com as Quad ESL63. Foi com muita pena que os vi sair da minha sala de audição mas foi gratificante ter podido ter a oportunidade de os ouvir em duas ocasiões bem distintas. O preço do conjunto não é seguramente um detalhe porque limita o alcance da sua compra a alguns privilegiados mas as coisas excepcionalmente boas nunca foram baratas. Galinha gorda por pouco dinheiro é algo que se tornou extremamente raro nos tempos que correm.


Riviera APL-10 e AFM-50

Preços:
APL-10 – 18 573 €
AFM-50 – 52 980 €
RepresentanteAjasom