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Filhos do Sol – Parte 2

Filhos do Sol – Parte 2

Pedro Flores

9 abril 2024

A música com personalidade «solar»


Estar sentado em frente a um par de colunas é o sonho de muitas pessoas. Este pequeno nicho de entusiastas tem gostos simples, apenas quer sentir a emoção de ouvir música, com a melhor qualidade de reprodução… possível; pelo menos, a que a lógica ou a carteira tornarem possível. Ou a pombinha pombinho com quem se partilha o lar.
Mas os gostos nem sempre são tão simples e a carteira nem sempre tão pequena. E se os sistemas não forem demasiado intrusivos esteticamente, estão reunidos os requisitos para a… calamidade. A procura do som perfeito pode nunca terminar, mas “Mais vale um asno que me carregue do que um cavalo que me derrube” (princípio consagrado por Gil Vicente há já muitos anos). Transpondo para o mundo do áudio, tenho que “Mais vale um som banal que me agrade que um exótico que me seja indiferente”.

Voltando ao “estar sentado em frente a um par de colunas”: nem sempre é possível antecipar a tecnologia que se está a ouvir. Assumo que não sou o melhor exemplo, já que não gosto de confusão; de muita tecnologia, de muitas caixas, de muitos fios (não sou fã do sem fios, por enquanto…), de muito disto e daquilo. Gosto é de carregar em três botões e estar a ouvir música: fonte-amplificação-colunas, o menos é mais (evitei o less is more, sim, já me enervam os anglicismos não técnicos).

Foto Painel solar produzindo energia

O Luís gosta mesmo é de confusão! Um pouco ao contrário da minha perspectiva (muito, vá…), o sistema dele compõe-se de uma quantidade de caixas, caixinhas, cabos, fios, oito vias de som, colunas separadas em três partes… Acho que ele ouve mais o sistema através da música e eu apenas a música através do sistema (alguém já tinha dito isto, não há aqui grande originalidade). Mas tenho a felicidade de privar com amigos assim, uns mais tecnológicos, outros mais irracionais / emocionais. E o sistema é algo difícil de descrever, por isso “contratámos” a melhor pessoa para tal: o Jorge Gonçalves. Nas suas palavras: “A qualidade do som – a que o possuidor do sistema esteve habituado a ouvir nos estúdios (talvez antes da produção final que embala a música para ser consumida) e conjuntamente com as experiências no som de palco dos músicos. Portanto, mais perto da “rudeza” real da música tocada. Agudos brilhantes e percussivos, médios abertos com ataque e graves com corpo, que resultam num som claro, aberto e cheio, que é o que o Luís entende por perto do som real”.

Falei em colunas separadas em três partes? Também já alguém escreveu que “o som que se ouve é 80% responsabilidade das colunas”. E o Luís construiu estas separadas em três partes. Construiu igualmente o “sistema solar”, que permite alimentar toda a tecnologia que se ouve em frente ao par de colunas: “Estética versus função – sem descurar uma estética básica mínima para conseguir uma coabitação com os equipamentos no local (foram pintadas de preto com um efeito de pedra), foi gasto o mínimo possível tanto nas colunas bem como na amplificação. As colunas foram construídas em MDF de 19 mm com reforços interiores de forma suficientemente sólida e preenchidas com Polifil, um revestimento de lã branca barato, que possui alguma eficiência na absorção necessária. O equipamento de amplificação foi instalado numa caixa metálica com painéis de alumínio finos, pequena, com cerca de 30 cm de largura por 10 cm de altura. A ideia foi dar maior atenção à função, a reprodução da música, atingindo-se a tal qualidade do som, que o possuidor do sistema esteve habituado a ouvir nos estúdios”.
A lógica e a predisposição para gastos também tiveram a sua importância. Exceder o custo previsível não era difícil:  “O custo – teria de se construir o sistema, comprando altifalantes usados em bom estado ou, não sendo possível, novos, mas com elevada relação custo/benefício, e que cumprissem o desígnio da qualidade “de estúdio”. Foi tida uma especial atenção relativamente ao consumo do equipamento, pois pretendeu-se ouvir música com um custo o mais próximo possível do zero. Daí resultou a necessidade de se utilizar amplificação Classe D alimentada por painéis solares e baterias estacionárias, por intermédio de um regulador de elevação de tensão (fonte comutada) dos 12 V das baterias para os 36 V necessários para alimentar o amplificador e processador DSP. Depreende-se que é difícil construir um qualquer sistema de som, não necessariamente high-end, que esteja, pelo menos, acima da categoria de electrodoméstico e que custe abaixo de 5 000 euros”.

Luis Leal colunas I

Foi todo este conjunto que foi ouvido. Totalmente dependente da energia fornecida pelo sol, foi capaz de alimentar “duas placas de origem asiática com quatro amplificadores cada, disponibilizando 100 W RMS a 6 ohms, em classe D, com uma distorção THD anunciada de 1% até 10%. Cada uma delas possui um processador digital Analog Devices. As duas placas, para comunicarem entre si como um sistema, foram sincronizadas por uma ligação própria para o efeito e o sinal do primeiro processador também foi ligado por uma conexão I2S (Single-ended Line-in), com a segunda placa, obtendo-se assim um sistema de amplificação com oito amplificadores, quatro vias para cada coluna. Na primeira placa designada main, foram criadas todas as configurações descritas na etapa de processamento de som alimentando-se os primeiros dois amplificadores com o sinal de graves e os outros dois com o sinal dos médios/graves. Nesta placa master implementam-se os cortes a 300 Hz e 1 kHz e a saída I2S para a segunda placa já vai cortada a partir de 1 kHz; o crossover da segunda placa só implementa o corte dos médios/agudos para os agudos – 6 kHz. Os ganhos para a segunda placa, podem ser controlados de diversas formas. Ficou assim a primeira placa com os canais dos graves e médios/graves e a segunda com as vias dos médios/agudos e agudos, uma versão que pretende controlar unicamente a junção dessas duas vias.
Para serem programados os processamentos, é necessário um interface especial por intermédio de uma placa para a programação USB com um editor no Windows, que obriga a ter duas portas USB usando duas placas ou no caso de um interface só, é preciso abrir o equipamento para aceder ao processador da segunda placa, que foi o que foi feito. Como o acesso ao processador da segunda placa é raro, pois só tem um crossover com o corte de 6 kHz, só se fosse necessário alterar esse corte é que se teria de abrir o equipamento para mudar a interface de placa para programação do segundo processador. Esta está permanentemente ligada à primeira placa que contém os níveis, ganhos, equalizadores e soft clipping, implementados já no sinal I2S que vai para a segunda placa.
Este sistema de processamento e amplificação contido numa única caixa, compacto, foi alimentado a partir do regulador elevador de tensão (fonte comutada)”.

O sistema toca da forma que mais agrada ao Luís; aliás, algo que acontece com todos nós. O sistema é construído por / para alguém, não para agradar a Gregos e Troianos. Do mais simples ao mais elaborado conjunto de máquinas dedicadas, sempre foram necessárias opções e decisões para chegar ao nosso tipo de som. Para lograr atingir a nossa assinatura sonora, que permite ainda comparar com o que se ouve noutras paragens.
As opções passaram por um “processador Analog Devices programável digital (24 bit/48 kHz), onde o utilizador desenha o sistema de fluxo da informação através duma lista de componentes / objectos tais como o controlo do sinal de entrada com potenciómetros de ganho e sinal, desenha o tipo de equalizador que pretende, se paramétrico ou linear com o número de frequências escolhido (neste caso, foram usadas as frequências STD para equalizadores de 31 bandas) e assim por diante. Na etapa seguinte, foi usado um crossover Linkwitz-Riley com pendentes de 24 dB. Para os altifalantes escolhidos foram utilizadas as seguintes frequências de corte: de graves para médios/graves, 300 Hz; de médios/graves para médios/agudos, 1 kHz; e dos médios/agudos para os agudos, 6 kHz. Portanto, quatro vias de cortes activos para alimentar a amplificação e distribuir pelos altifalantes escolhidos para as colunas. Na via dos médios/agudos e na dos agudos foi escolhido e configurado um soft clipping para manter as duas vias superiores, o altifalante de médios/agudos com cúpula de titânio de 2 polegadas e o tweeter de fita, bem controlados. Foi um desenho minimalista para utilizar o menor processamento possível de etapa para a etapa digital ou o mínimo de etapas possíveis. Existem nessa lista do processador digital outros componentes muito interessantes de adicionar ao desenho, como o «Subharmonix» famoso nos processadores digitais profissionais da DBX”.

Luis Leal colunas II

O Luís gosta do som com alguma ausência ou falta de extensão de baixas frequências. Não se importa de ouvir reggae sem os woofers permanentemente no limiar do descontrolo. Reggae sem ser em cima desta linha finíssima, não é reggae. Por mim, até pode descontrolar! Mas a Mystère Naturel – Alpha Blondy tocou bem. A gama média / baixa é redonda, quase de válvulas. O que é estranho, já que o meu amigo foge das válvulas como o Diabo da Cruz. Os agudos não se fizeram notar especialmente, o que é uma boa notícia. O saxofone na Forever in Love – Kenny G é que brilhou. E se algumas passagens são difíceis de reproduzir… No geral, talvez haja uma ligeira falta de ritmo; para mim, não para quem interessa.

Sumo de muitas e variadas laranjas, torna-se difícil avaliar o som e perceber de onde vêm as limitações; se é que se pode falar em limitações e não em opções. É também por esta razão que prefiro sistemas mais simples, onde é provável identificar e actuar no componente que julgamos nivelar por baixo o conjunto. Como sistema tecnológico e racional, parece sempre possível melhorar o som pela alteração dos parâmetros digitais; o que me causa algum desconforto. Poder alterar / maximizar a acústica da sala por software (às vezes, é mais… prático) é algo que não me agrada especialmente! É como ter um automóvel com motor banal e acrescentar-lhe um turbo. Se necessário, altera-se a pressão do turbo e… acelera-se.
No geral, não há diferenças audíveis, no que toca ao tipo de alimentação do sistema. Não é um som unânime; algum o é?