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O estado das coisas no mundo do áudio

O estado das coisas no mundo do áudio

João Martins

26 julho 2023

Será que a macroeconomia também está contra a indústria de áudio?


E quanto ao áudio?



Por esta altura, o leitor já deve ter começado a concluir que qualquer tentativa de caracterizar o estado da economia da indústria de áudio se limita a tentar ler os sinais de segmentos de produtos aparentemente muito distintos e mais globais. Isso é verdade até certo ponto, mas há que reconhecer que o estudo dessas classes de produtos mais amplas e de maior alcance permite uma melhor compreensão do quadro macroeconómico geral e das tendências no comportamento do consumidor. Considerando que não há nenhuma empresa de pesquisa de mercado fazendo trabalho de campo em categorias de produtos que possam ser relevantes para a indústria de áudio (costumava haver algumas, mas já faz mais de 3 anos desde que vimos relatórios de mercado relevantes e confiáveis), isso é o melhor que podemos usar para compreender o ambiente em que estamos. É difícil entender que não tenha sido publicado nenhum relatório de mercado fiável nas principais categorias de tendências, tais como, por exemplo, auscultadores ou auriculares sem fios ao nível do consumidor, ou mesmo áudio no automóvel. Já é mais que tempo de uma empresa séria de pesquisas de mercado olhar nessa direcção. Mas, em geral, o maior desafio para entender como está a indústria do áudio continua a ser a sua segmentação. Os equipamentos de consumo estão muito divididos em grandes segmentos, tais como áudio pessoal (auriculares, auscultadores, leitores portáteis de música, colunas portáteis etc.) e, numa visão mais alargada do mercado, sistemas para cinema em casa, barras sonoras e mesmo colunas sem fios tipo Ikea. E, dentro desse mesmo segmento, podemos ver que o alucinante negócio do áudio high-end e da alta-fidelidade é um microcosmo - ou o do cinema em casa high-end com investimentos privados muitas vezes superiores ao que normalmente custa uma sala de cinema comercial. Não existe realmente uma “indústria de áudio” única e os produtos de áudio atingem hoje em dia tantos mercados e aplicações diferentes que a maior parte do negócio assenta em componentes usados igualmente em smartphones, computadores portáteis, TVs, carros e em muitos outros sectores. Porém, mais importante, de uma maneira ou de outra, esses diferentes segmentos da indústria de áudio aquirem todos componentes e peças vitais a partir das mesmas origens, embora não estejam necessariamente conscientes uns dos outros, de até que ponto competem uns com os outros, e de quanto podem depender dos mesmos fornecedores. É por isso que se torna cada vez mais premente a necessidade da criação de uma associação profissional que faça pesquisas sérias sobre os segmentos de produtos reais que sabemos fazerem sentido, tais como altifalantes para colunas, componentes e módulos amplificadores de áudio, módulos de áudio sem fios e muito mais. Esses estudos ajudar-nos-iam a entender melhor o que é essa indústria e que negócios ela realmente movimenta.

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Olhando agora a partir do extremo oposto, fornecedores vitais, como fabricantes de semicondutores e componentes electrónicos, necessitam estar mais próximos da indústria de áudio e promover os seus próprios portefólios de produtos. Não é aceitável que componentes que foram desenvolvidos e lançados há 20 ou mesmo 30 anos (oficial e extra-oficialmente em fim de linha) continuem sendo especificados e implementados em produtos de áudio acabados, quando existem opções muito superiores nos catálogos das mesmas empresas que os fabricam. Sabemos que as aplicações no domínio do áudio continuam a ser um nicho relativamente pequeno para as grandes empresas de electrónica, e nunca há recursos promocionais e educacionais suficientes, mas não é aceitável que novas e modernas soluções permaneçam relativamente pouco divulgadas juntos dos projectistas e das empresas de áudio (e mesmo das publicações especializadas como a AudioXpress).

Como vão as coisas?


Ao longo das últimas semanas têm-me colocado repetidamente questões tais como: “como está a indústria do áudio”, “estamos caminhando para uma contracção?”, e assim por diante. A ansiedade resulta da já bem compreendida dependência da “produção terceirizada” que, goste-se ou não, significa a China e continuará a significar a China no futuro previsível.


E o que é que a China nos diz?


De acordo com o jornal de língua inglesa South China Morning Post,  o desempenho actual do sector de fabricação da China é muito preocupante, conforme ilustrado pelos dois últimos índices dos responsáveis de compras (PMIs) - óptimos indicadores da saúde económica e que avaliam o sentimento nos diversos sectores de negócio. Nesses índices, qualquer leitura acima de 50 corresponde a um crescimento do sector. O PMI oficial divulgado pelo Departamento Nacional de Estatísticas da China mede em grande parte o sentimento entre grandes empresas, muitas das quais estatais. O PMI industrial oficial da China caiu para 35,7 em Fevereiro de 2023, a partir de um valor de 50,0 em Janeiro, e abaixo do valor de 38,8 relatado em Novembro de 2008, no início da crise financeira global, indiciando uma forte contracção na actividade do sector. No mês passado, o índice PMI oficial da fabricação da China subiu para 49, a partir de 48,8 em Maio. E o índice oficial dos sectores não produtivos, que mede o sentimento empresarial nos sectores de serviços e construção, caiu para 53,2 em Junho, quando em Maio estava em 54,5. Claramente, as coisas não estão voltando ao que eram antes da pandemia, e a área de fabricação está no centro da contracção.

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Tendemos a pensar que as empresas ocidentais já se estão a mover para deslocar a produção para fora da China, um processo que começou antes mesmo das tarifas dos EUA ou da pandemia global. Mas a realidade é que os fabricantes chineses foram os primeiros a iniciar essa mesma mudança, principalmente para países como o Vietname e a Índia, onde já podemos encontrar fábricas dos maiores fabricantes OEM e ODM, dos quais a indústria de áudio depende. A reabertura pós-pandemia na China acelerou esses movimentos, e um dos motivos é a falta de trabalhadores. Como ilustra o South China Morning Post, desde 2020 que os fabricantes lutam para retomar as operações, devido ao impacto da pandemia. Muitos dos trabalhadores migrantes despedidos na China pelas indústrias de trabalho intensivo mudaram para outros sectores e não vão regressar aos seus anteriores. Com a reabertura, os gastos dos consumidores aumentaram e o retorno do país às viagens domésticas e ao tráfego de passageiros superou os níveis pré-pandemia (embora as viagens internacionais ainda não tenham recuperado). Neste momento, a actividade económica em geral está diminuindo, à medida que a recuperação vacila. Depois de crescer a um ritmo mais rápido do que o esperado no primeiro trimestre, a economia da China perdeu força em Abril-Junho, no meio de uma deflação acentuada, vendas decepcionantes nas lojas, alto desemprego juvenil, menor produção industrial e… “procura estrangeira lenta”.


Nota: Procura externa fraca


A China não está a receber novas encomendas como esperado e as exportações desaceleraram. Até a recuperação do sector de serviços está a perder força relativamente aos níveis pós-pandemia. O PIB da China está em baixa e a incerteza é o termo mais comum usado para descrever o que está a acontecer no país - assim como em qualquer outro lugar do mundo.

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